Consultora econômica foi a convidada da segunda edição do BRDE Cenários
Além de reafirmar a importância de uma trajetória saudável em termos de déficit das contas públicas e de controle da dívida, a crise provocada pela pandemia de Covid-19 “forçou o país a refletir sobre suas fraquezas e isso, somado a uma sociedade mais inquieta, faz mover uma agenda de reformas”. A expectativa foi manifestada pela consultora econômica Zeina Latif, nesta quarta-feira (4/08), durante sua participação no BRDE Cenários. “Bastou a economia do Brasil recuperar o nível de pré-pandemia, e não falamos de pré-crise de 2015, para que surgissem os gargalos que limitam o nosso crescimento”, alertou ela durante a segunda edição do clico de palestras promovido pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).
Na sua análise das lições que pandemia trouxe, Zeina Latif apontou como principal pecado a ausência de uma coordenação nacional mais efetiva. “É essencial termos maior eficiência nas políticas públicas. O Brasil gastou bastante, mais do que muitos países emergentes, mas não colheu frutos”, comparou, referindo-se ao elevado percentual de óbitos causados pela Covid-19.
A sobrecarga na área da saúde exigiu muitas medidas de socorro, mas na visão de Zeina Latif a falta de uma melhor calibragem pode estar na origem da inflação e dos juros altos que a economia se depara agora. “A questão fiscal é sempre um combustível para a inflação e ela, quanto mais alta, mais teimosa”, sentenciou a consultora econômica na sua mensagem, alertando para o fato da escalada do indicador no Brasil estar descolada do cenário de outras economias. Ela lembrou que ter disciplina no controle fiscal é importante justamente para, em casos de emergência, o país possa ter política anticíclicas.
Gargalos
Ao identificar como um “apagão de reformas” o que o país viveu entre o período do Mensalão até o ano de 2016, Zeina Latir afirmou que o crescimento da nossa economia tem baixo potencial por diferentes gargalos. Entre outros, ela cita os desafios em termos de melhor qualificação da mão de obra e os desafios de infraestrutura, estes impactados pela falta de maior segurança jurídica. “Nem só recurso e crédito resolve, precisamos de marcos legais. A atual crise de energia, por exemplo, não é apenas uma crise hídrica, mas sim de uma melhor regulamentação do setor”, expôs.
Para Zeina Latif, a pandemia acelerou e antecipou muitos investimentos das empresas em inovação como resposta à crise, mas nem todas conseguiram avançar nessa fronteira tecnológica. “Mas nem todas as empresas se salvarão, por isso é importante que as políticas públicas sejam direcionadas em favor do capital organizacional, empresas que são consolidadas e que precisam de socorro e crédito”, apontou. Conforme a economista e colunista do jornal O Globo, os bancos públicos e de fomento têm um papel importante nessa engrenagem justamente para atender empresas que não terão condições de financiar, por exemplo, no mercado de capitais.
Na avaliação da diretora-presidente do BRDE, Leany Lemos, a segunda edição do ciclo de debates, com a presença de Zeina Latif, cumpriu com o objetivo do evento. “Permite refletir sobre a conexão do Banco com ao desenvolvimento econômico e social da região Sul”, observou a presidente. A palestra foi transmitida ao vivo e segue disponível no canal de Youtube do Banco.
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