Viabilizar maior competitividade da pecuária de corte e valorização do produto no mercado, porém combinadas com a conservação dos campos nativos do Bioma Pampa. É com este objetivo que o BRDE e o Sebrae/RS firmaram uma parceria que compreende cooperação técnica e financeira para envolver, ao longo dos próximos dois anos, cerca de 100 propriedades rurais na incorporação de práticas sustentáveis nos chamados campos sulinos. Mas o projeto tem potencial indireto com impactos em favor da biodiversidade do bioma também em países vizinhos.
Através dessa iniciativa, BRDE e Sebrae/RS estão se aliando à Associação para Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil) no projeto da Alianza del Pastizal. Trata-se de uma iniciativa sul-americana liderada pela BirdLife International para a conservação dos campos naturais do Cone Sul, num esforço conjunto entre produtores rurais e profissionais de agronomia e biologia dedicados ao binômio “produção com conservação”.
Para a diretora-presidente do BRDE, Leany Lemos, a cooperação permitirá troca de experiência e assistência técnica impactando cerca de quatro mil pessoas que vivem no Bioma Pampa. “Vivemos uma mudança de paradigma no desenvolvimento global, onde produzir com sustentabilidade está na ordem central, com ações locais mas com impactos no planeta. E o BRDE tem em sua missão o compromisso de apoiar a região, sempre alinhado com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 2030”, destacou a presidente.
A cooperação técnica pretende atender diretamente um mínimo de 100 produtores rurais organizados em grupos e, indiretamente, todos os membros da Alianza del Pastizal, que hoje são mais de 240 propriedades rurais, bem como novas propriedades que venham a ser certificadas. Além dos produtores, o projeto inclui um conjunto de ações sistêmicas como eventos, seminários e dias de campo, que permitirão expandir a abrangência de seus impactos.
Recursos para cooperação técnica
A parceria compreende investimentos na ordem de R$ 350 mil nos dois anos de execução do projeto, que serão disponibilizados pelo Sebrae/RS. Desse total, a instituição que atua em favor das micro e pequenas empresas diretamente participará com R$ 200 mil. O BRDE, através da Agência de Porto Alegre, está participando com patrocínio de R$ 100 mil e a SAVE Brasil complementa a participação com R$ 50 mil.
Na visão do diretor-superintende do Sebrae/RS, André Vanoni de Godoy, a parceria neste projeto “ajudará a desmistificar a ideia equivocada de que desenvolvimento e preservação são coisas antagônicas”. “O Sebrae tem a virtude de trabalhar com boas parcerias e essa contribuição ao Bioma Pampa trará condições de melhorar a produtividade com a necessária proteção ambiental”, acrescentou.
O diretor de Planejamento do BRDE, Luiz Corrêa Noronha, salientou que a preocupação em proteger os campos sulinos já vem desde a virada do século, buscando apoiar o produtor na atividade da pecuária ao invés de ceder à agricultura extensiva na região. “Hoje mais de 500 mil hectares de campos nativos estão preservados e esse convênio permitirá um ganho em escala”, destacou Noronha.
Conforme o diretor-executivo da SAVE Brasil, Pedro Develey, o ganho de competividade que o projeto busca oportunizar aos produtores rurais, sempre aliados à preservação das suas áreas, representa o agronegócio do futuro. “O nosso Pampa já é exemplo para outros biomas”, resumiu Develey. Na mesma linha, o consultor da Alianza, Michael Carroll, observou que, em recente encontro do Mercosul de que participou, o tema da integração entre a produção e as questões ambientais foi abordado, confirmando a atualidade da iniciativa.
O Bioma Pampa
O Bioma Pampa corresponde a uma área de 176,5 mil km² (cerca de 2% do território nacional) e é constituído principalmente por vegetação campestre. É conhecido também como campos do Sul ou campos sulinos. No Brasil, o Pampa está restrito ao Rio Grande do Sul, ocupando 63% do território gaúcho. Há também grandes extensões nos territórios da Argentina e do Uruguai.
Nos quatro países de atuação (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), a Alianza del Pastizal conta com mais de 40 organizações que compartilham sua visão, entre indústrias, sindicatos rurais, instituições de pesquisa e associações de produtores rurais. No Brasil, é mantida e coordenada pela SAVE, organização para a conservação das aves no território brasileiro.
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