Motivos é a segunda exposição individual de Laura Ridolfi em Curitiba e apresenta a sua produção mais recente em pintura a partir de uma investigação memorialística que alude a lembranças familiares contadas por histórias, sonhos e fotografias.
No princípio, sua aprendizagem artística se constituiu pelo estudo da abstração geométrica, formando processualmente um vocabulário de formas que se combinam e se repetem, pertencentes ao vasto léxico da geometria plana e espacial. Atualmente, suas pesquisas continuam explorando padronagens, mas
agora fazem referência a um revestimento antigo das superfícies do mundo: o azulejo.
A característica modular, a paginação e os diferentes ornamentos das peças cerâmicas vidradas são os elementos visuais mais explorados pela artista, motivada por uma escolha biográfica, que remonta a sua descendência brasileira, portuguesa e à presença dos azulejos nessas culturas. Suas composições remetem a uma arquitetura de improviso, pois numa mesma imagem são combinados tipos diversos de azulejos pictóricos, associados a cenas oníricas ou de fragmentos do cotidiano, formando um revestimento heterogêneo e multicolorido na superfície dos quadros.
O interesse em percorrer sua identidade passou a ser abordado também na escrita, na produção textual sobre histórias de sua família, e no retorno aos álbuns de fotografia da infância, que se tornaram fontes iconográficas para as pinturas. Sua revisão da memória íntima e coletiva tem sido trabalhada em ateliê nos últimos dois anos, experimentando diversas formas de contar essas narrativas em textos e imagens, numa abordagem que passa sempre pelo lúdico e pela fantasia, tônica dos trabalhos selecionados para a exposição Motivos – um convite à recordação dos espaços e anedotas que nos constituem.
#TextoCritico
_Isadora Mattiolli
Motivos aborda um percurso na pintura de Laura Ridolfi que começa na abstração geométrica e vai ganhando novos contornos à medida que a artista recupera memórias de família, principalmente as de sua infância, transmitidas por anedotas e álbuns de fotografia. Suas composições partem da representação de azulejos, técnica milenar de revestimento e decoração de superfícies, que adquirem
um significado biográfico pela sua descendência luso-brasileira. Nesse exercício de recordação, a qualidade narrativa dos azulejos, em suas diversas tipologias, é utilizada pela artista como um recurso para o desenrolar de suas lembranças, explorando padronagens e produzindo seus próprios paineis historiados.
As pinturas que se transfiguram em azulejos, constituídas por cores saturadas e formas geométricas, demonstram um vocabulário adquirido de elementos combinados e repetidos, pertencentes ao vasto léxico da geometria plana e espacial. A vibração dessas imagens e a sugestão de movimento produzem um efeito de projeção que parece avançar no espaço, criando uma volumetria sensível ao olhar.
Aos poucos, os quadros que emulam azulejos deixam de ser apenas superfícies planas para se tornarem representações dessas peças cerâmicas dentro do espaço pictórico, inaugurando uma profundidade sutil. Essa ligeira profundidade torna-se palco para a aparição de figuras oníricas – pessoas, cavalos, anjos – que habitam o imaginário da artista, animado por narrativas familiares geracionais que, com o
tempo, ganharam um ar fantástico.
A retomada de seus arquivos fotográficos desponta como outra estratégia de aproximação do passado. Os retratos dos pais, a temporada de férias, a festinha de aniversário dos animais de estimação, entre outras cenas lúdicas e prosaicas, revelam os temas de interesse da fotografia no contexto privado – que ganham uma nova perspectiva quando ressignificadas nas suas pinturas. A linguagem fotográfica,
em si, produz uma descontinuidade ao destacar fragmentos do real e, muitas vezes, são essas frações de tempo suspensas que avivam a nossa memória. Essa ambiguidade entre o que foi e o que a artista traduz pictoricamente dessa experiência possui um forte potencial de identificação: apesar dos trabalhos remeterem à sua infância, a aparência dessa infância pode soar familiar, propondo uma ponte entre a memória individual e coletiva.
Sejam provenientes de histórias orais, sonhos recorrentes ou fotografias, todas as cenas evocadas possuem um interesse que transcende seus próprios assuntos. A pesquisa poética de Laura evidencia o poder das palavras e das imagens no nosso inconsciente, ao mesmo tempo que expressa, em sua qualidade pictórica, como esses motivos são moldados. A construção de suas pinturas se revela aos poucos, uma cor após a outra, aguardando a sua complementar ou análoga, para compor formas que variam entre triângulos, quadrados, trapézios ou, então, o desenho de um corcel ou alazão. Embora baseada em princípios geométricos e figurativos, a artista não faz uso de ferramentas de precisão: quem dá a medida das coisas é o seu próprio corpo, trazendo um aspecto artesanal e deliberadamente inexato ao resultado. Essa manualidade não diminui o efeito visual de sua obra. Pelo contrário, tal característica reforça os lapsos inerentes a qualquer recordação do passado e se aproxima da forma mais imperfeita da memória, que nos exige um contínuo exercício de fantasia.
Sobre a artista
Laura Ridolfi, nasceu em Maringá, em 1998, vive e trabalha em Curitiba. A artista trabalha principalmente com pintura sobre tela e desenho sobre papel. Utiliza a geometria como principal motivo de trabalho, relacionando as formas e cores, explorando a tridimensionalidade na superfície plana do tecido. Além disso, numa busca mais recente, procura a azulejaria como uma referência importante na sua obra e a introdução a elementos figurativos que remontam de anedotas que recolhe da sua história familiar. Sua busca é criar seu repertório de motivos geométricos e de figurações que abracem cenas e expandam narrativas para além da própria imagem.
MOTIVOS
Abertura: 17 de dezembro de 2024, às 19h
Encerramento: 31 de janeiro de 2025
de terça a sexta, das 13 horas às 18 horas, última entrada às 17h30.
Artista Laura Ridolfi Curadoria Isadora Mattiolli Textos Isadora Mattiolli e Laura Ridolfi Materiais Gráficos Malu Augustini Assessoria de Comunicação Renata Borges Todescato Assessoria de Imprensa Ronise Vilela Comissão Cultural BRDE Mariana Bernal, Paulo Marques e Sandro Hauser Mediação Kathia Bello
A exposição #MOTIVOS é uma realização do #BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul. Comissão de Seleção: Mariana Bernal, Paulo Marques e Sandro Hauser