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ASAS

Cristina Agostinho
12.03 – 30.12.20

As obras reunidas na exposição ASAS de Cristina Agostinho retomam a costura – técnica e tradição tão vinculada ao cuidado com o outro, com a afetividade – em novas interpretações e símbolos do universo feminino, através da lupa do universo próprio da artista. Uma herança dos movimentos feministas e suas profundas mudanças nos papéis sociais no final dos anos 60 do século XX.

“Em ASAS, Cristina Agostinho nos envolve em um conto onírico, cheio de símbolos em um vocabulário próprio, no qual os vestidos e as pinturas são costurados pela mitologia e pelo universo do feminino.”

Ana Rocha

Vista da exposição ASAS, de Cristina Agostinho

#TextoCrítico

Asas para um mergulho dentro de si

_ Ana Rocha

A primeira vez que encontrei o trabalho de Cristina Agostinho foi em 2007. Na ocasião, eu era mediadora na Casa Andrade Muricy, onde ela realizava uma exposição individual. Ainda é muito vivo em minha memória o que mais me marcou em seus desenhos/costuras: que o verso é também parte do trabalho. Quando pensamos no suporte do papel ou da tela, são os limites da superfície que assumem o protagonismo das discussões. Mas no trabalho de Cristina Agostinho as linhas que atravessam o tecido desenham, no vai e vem, penduram-se, transformam-se e criam volume, um corpo que se veste daquele tecido e transcende a superfície.

A costura é o ato de juntar duas superfícies, duas partes de tecido. Utilizada universalmente pela humanidade para nos vestir, a costura é uma tradição que nos remete a tempos tão remotos quanto o paleolítico, contudo no ambiente doméstico moderno torna-se uma atividade quase exclusiva feminina. Uma atividade ligada ao cuidado com o outro, à afetividade. O universo feminino enquanto análise poética é uma herança dos movimentos feministas, que provocaram mudanças nos papéis sociais no final dos anos 60 do século XX, inclusive no campo da arte. A relação entre arte e feminismos abriu espaços para as técnicas, as expectativas e os hábitos do universo privado, da casa onde a mulher habita, para o interno.

Na exposição ASAS, Cristina Agostinho nos envolve em um conto onírico, cheio de símbolos e um vocabulário próprio, no qual os vestidos e as pinturas são costurados pela mitologia e pelo universo do feminino. Como o próprio título sugere, somos convidados a alçar vôo em seu universo particular, a tecer uma relação com sua própria imagem e desenhos que a linha conduz sobre e através do tecido e a tinta sobre a tela. Seus autorretratos cheios de lirismo são um convite a entrelaçar – nos no colar de contas, na imensidão dos sentimentos que atravessam o cotidiano e despertam um desejo da intimidade, de atravessar e adentrar ao universo que se apresenta. Um convite a reconhecer o nosso feminino, a nossa sensibilidade e capacidade de olhar para nosso verso, para nosso mundo interior.

Autorretratos – série de bordados da artista

Sobre a artista

Natural de Portugal, Cristina Agostinho vive e trabalha em Maringá, PR. Formada em Artes Visuais na Belas Artes de Lisboa e pela FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado, iniciou sua carreira artística na década de 1990 em São Paulo. Realizou exposições individuais e coletivas, entre as quais “Os treze” (Palácio dos Coruchéus – Lisboa,1989), “Cristina Agostinho e Sandra Cinto” (Casa Triângulo – São Paulo, 1993), “Imãs” (Casa Andrade Muricy – Curitiba, 2008) e “Estamos aqui” (MAC – PR, Curitiba, 2019). Seu trabalho “Bandeirola 4” integra o acervo do Museu de Arte Contemporânea do Paraná.

Texto: Ana Rocha / Design Gráfico: Richard Romanini / Montagem: Rogério Bealpino / Fotos e Vídeo: Rafael Dabul

A exposição #ASAS é uma realização do #BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul, por meio do Edital de Exposições de Artes Visuais (2019 – 2020). Comissão: Geraldo Leão, Rafaela Tasca e Silvio De Bettio.