A exposição “Casa Mundo – das formas de coabitar” traz quatro artistas – Isabela Picheth, Nicole Christine, Pat Mattos e Priscilla Durigan – que, por meio de diferentes linguagens e materialidades, criam diálogos entre suas práticas artísticas. Entre similaridades e afastamentos, investigam as múltiplas formas de habitar o mundo.
Distribuída pelas duas salas expositivas do Espaço Cultural BRDE, a mostra apresenta uma diversidade de técnicas, incluindo esculturas em tecido, madeira, cerâmica e silicone, além de pinturas, colagens e vídeoinstalações.
Detalhe da obra: Retrato em família Pat Mattos
A exposição sugere um emaranhamento das relações entre corpo, casa e mundo. Em vez de tratá-los como esferas isoladas, investiga suas interconexões, refletindo sobre como habitamos o mundo e como o mundo nos habita. As abordagens evidenciam a coexistência e a interdependência como maneiras para repensar modos de habitar e existir, rompendo com dicotomias rígidas e linearidades filosóficas.
Detalhe da obra: Sem título – Série -25.409549 -49.316243 Priscilla Durigan
#Texto da exposição
_Isabela Picheth
Habitar em comum, partilhar o mesmo espaço de habitação, existir junto ou em companhia são diferentes formas de expressar o mesmo: não existimos sós, coabitamos.
Ainda que num primeiro momento essa afirmação nos pareça óbvia, ela não é. Frente a uma longa tradição filosófica do pensamento cartesiano, herdado pelo colonialismo ocidental, que criou dicotomias insustentáveis dentro da estrutura social, impera-se o conceito de existir sobre, ao invés de existir com.
A mente está sobre o corpo, o humano sobre o animal, o público sobre o privado, a cultura sobre a natureza, os homens sobre as mulheres e o civilizado sobre o “primitivo”.
Diante dessa falsa premissa, quatro artistas, de diferentes maneiras, operam no caminho contrário, buscando formas diversas de coabitar nesta casa mundo.
Priscilla Durigan, em suas pinturas, reformula o espaço pictórico e matérico da própria linguagem, ao nos lembrar da potencialidade plástica da tinta acrílica durante o processo de moldagem que realiza sobre as superfícies da casa. A artista também explora, a partir dessa prática que parte da pintura, a produção de tramas e os possíveis tensionamentos entre seu próprio corpo e daqueles que o antecederam nos diferentes espaços habitados.
Esse pensamento, de criação de uma trama entre o corpo que transita e as relações que produz nos diferentes espaços que percorre e habita, também se faz presente na pesquisa de Nicole Christine. Tanto na pintura produzida a partir dos trajetos em seu cotidiano, quanto nas pinturas sobrepostas nos folders de anúncio deixados nas casas no período morado no exterior, Christine traça essas relações entre seu corpo e os espaços que ele perpassa.
Já em meu trabalho e no de Pat Mattos, o espaço privado ganha enfoque. O feminino atrelado a esse lugar é reformulado, desestabilizando as barreiras que o espaço doméstico imprime socialmente sobre o corpo da mulher, produzindo dissoluções a partir de prerrogativas que limitam, oprimem e violentam esse corpo.
Nós quatro, neste sentido, criamos tensionamentos entre esses lugares do habitar e existir produzindo borrões entre as dicotomias. As noções de corpo, casa e mundo deixam de estar isoladas e passam a se interconectar num fluxo inestancável, ora transformando o espaço íntimo em um lugar de interesse coletivo, ora partindo do espaço público para evocar as relações do íntimo. Tanto nos processos de criação e suas respectivas metodologias, quanto nas materialidades e formalizações compositivas, se fazem presentes essas contaminações de um pensamento rizomático do estar e existir nesta casa mundo.
Detalhe da obra: Passeios Públicos Nicole Christine
Sobre as artistas:
Isabela Picheth (1995) trabalha e reside em Curitiba. A artista é mestra em artes, na linha de poéticas, pelo programa PPGARTES da FAP/UNESPAR (2023), bacharela em Pintura pela EMBAP/UNESPAR (2019) e licenciatura em Artes Visuais pela UNINTER (2023). Pesquisa o corpo dentro do recorte escultórico, produzindo peças a partir do molde de seu próprio corpo, há 8 anos. A artista é idealizadora e integrante do grupo e coletivo de artistas visuais Em-cadeia desde 2019. Nicole Christine se define como poliglota-visual e busca ampliar a linguagem. Bacharela em Escultura, pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e especialista em Gestão Cultural. Poeticamente se entende como uma investigadora de linguagens e de relações. Atua como artista e professora de artes e cerâmica.
Pat Mattos (1986) é paulistana, fotógrafa, formada em Artes Visuais da Unespar – Embap Curitiba I. Com interesse nas linguagens escultura, fotografia, instalação e vídeoperformance. Tem pesquisado a relação entre o corpo e o objeto, o privado e o público, e a casa como refúgio e aprisionamento. Priscilla Durigan (1988) é formada em Pintura na EMBAP – Escola de Música e Belas Artes do Paraná (2021) e integra do grupo de artistas Em-cadeia. Pesquisa as relações que são possíveis estabelecer a partir da materialidade da pintura: de tensionamento dos limites desta com outras linguagens visuais, de experimentação entre corpo, tempo e objeto artístico, de estranhamento e de aproximação do sujeito com questões da arte.
Detalhe da obra: Ladrilhos (cerâmica branca) Isabela Picheth
Casa Mundo – das formas de coabitar Abertura: 13 de fevereiro de 2025, às 19h Encerramento: 28 de fevereiro de 2025 de terça a sexta, das 13 horas às 18 horas, última entrada às 17h30.
Artista Isabela Picheth, Nicole Christine, Pat Mattos e Priscilla Durigan Texto da exposição Isabela Picheth Designer Bárbara Haro Assessoria de Comunicação Renata Borges Todescato Estagiária de Jornalismo Isabeli Cristine Guerreiro Comissão Cultural BRDE Mariana Bernal, Paulo Marques e Sandro Hauser Coordenação de Cultura Mariana Bernal Mediação Kathia Bello
A exposição Casa Mundo – das formas de coabitar foi selecionada pela Comissão do Edital de Ocupação 2024 – 2025 do #BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul.