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Ilex o tempo das coisas

Coletivo Bordas
17/04/2025 a 23/05/2025

A exposição “Ilex o tempo das coisas” do Coletivo Bordas, integrado por Cadu Cinelli, Gi Mazetto, Lisiani Serea, Lucilene Wapichana, Lu Dobrychlop, Marcelo Forte, Max Carlesso, Rafael Codognoto, Sonia Vasconcellos, Suzi Pereira, Talita Thutty e Vavá Diehl. A mostra evidencia as memórias e saberes que se cruzam em diferentes tecidos, costuras, entrelaces e desfechos, olhando para histórias reveladas e camufladas neste espaço eclético e cultural.

Detalhe da obra: Grande pano Coletivo Bordas e mais de 70 pessoas contribuiram

_Coletivo Bordas

Ilex, uma palavra latina que junto ao termo paraguariensis, é o nome científico da erva-mate, originária da América do Sul, e consumida como chá mate, chimarrão ou tereré. Em Curitiba, essa palavra se mescla com a família Leão e com sua marca no ciclo da erva-mate e na fabricação de chás.


O Palacete dos Leões, agora um espaço cultural, nos transporta para um tempo de encontros, de comemorações e de cuidados com a casa e seus objetos. Maria Clara e Agostinho foram seus primeiros moradores, e esse espaço retém as memórias de casa, de decorações rebuscadas, de tecidos adamascados e bordados nas roupagens do corpo e da casa. – Algo assim que retire a afirmação e mude a ênfase para a casa, e os tecidos/bordados/desenhos que ainda estão presentes nas cortinas, paredes e tetos. O tempo é outro, mas a memória permanece no tempo das coisas e é para esse tempo que um grupo de artistas do Coletivo Bordas dedica seu olhar, suas mãos e seus trabalhos.


“As imagens que construímos em bordados, que acreditamos serem para além de particulares, estão envolvidas em um processo mais amplo de vivência e de trocas. Muitas dessas imagens estão impregnadas de imaginários, permeiam nossas memórias, fazem parte da construção de significados e de arquétipos culturais.”


Este coletivo tem no bordado sua âncora e suas asas e estende esta artesania para outros grupos, outras agregações, sejam territoriais, acadêmicas, culturais ou afetivas. O cruzamento de memórias e de saberes formam tecidos que permitem ao Coletivo Bordas diferentes costuras, entrelaces e desfechos que, neste espaço eclético e cultural, revelam e camuflam histórias.

Coletivo Bordas e a manualidade têxtil

Este grupo carrega em si a busca pela afetividade e alegria de produzir para além de suas necessidades olhando para o coletivo e no crescente interesse e investimento nas narrativas das diferenças ou “pequenas narrativas”. Nessa perspectiva, grupos menores passam a “ganhar espaço” na narrativa histórica, sendo também compelidos a formular e apresentar ao mundo seus relatos autobiográficos. Especificamente no campo das práticas artísticas têxteis, surge um certo incômodo relacionado aos discursos que “captam vozes marginalizadas”, cedendo e garantindo a elas espaços no sistema da arte.

Mais do que técnicas, materiais específicos e modos de execução, as práticas e narrativas em arte têxtil se acercam dos sentidos que produzem, das relações que são capazes de criar e dos conhecimentos que podem gerar por meio das materialidades e/ou concepções têxteis.
Conhecimentos ancestrais de criação com linhas, agulhas e tecidos sobrevivem ao tempo, evocam memórias, ecoam visualidades e transbordam para o outro. A ressignificação de memórias autobiográficas ancestrais e a perpetuação de técnicas e ensinamentos das/os mais “velhas/os” foram a fonte primária de inúmeros processos de criação. Torna-se importante
perguntar: como a afetividade e os relatos autobiográficos são vistos por quem produz conhecimentos ditos “legítimos”?


Entre estas peculiaridades estão: como se aprende (geralmente por vínculos familiares, ancestrais e/ou afetivos); por onde transitam as/os artistas e/ou produtoras/es de narrativas têxteis (desmontando o circuito artístico dito oficial); a imprescindibilidade das características têxteis nos processos de criação (uso de materiais específicos e trama relacional); a atuação por meio de práticas colaborativas (trata-se da relação do eu com o outro, da construção de relações macropolíticas); a relação interdisciplinar (várias/os profissionais e fontes de diferentes áreas do conhecimento) e; a ligação à memória corporal (autobiografia).

Aspectos curativos e de ressignificação emocional circundam o campo das práticas têxteis com frequência. Por um lado, a utilização de materiais baratos (ou reaproveitados) e o fácil acesso ao conhecimento de pontos e técnicas (poder aprender com a própria família, com pessoas próximas ou na internet) são fatores que favorecem a relação entre a arte e com o coletivo.
Ações têxteis em grupos oportunizam a exposição pessoal de angústias, medos, inquietações e reivindicações. Há algo de íntimo com as linhas e técnicas com agulhas, muito ligado à ancestralidade, à espiritualidade e à superação de momentos ruins. Geralmente, o resgate de memórias das infâncias é utilizado para ressignificar algo do presente. Além disso, a costura, o bordado, o crochê, a tecelagem, entre tantas outras possibilidades, exigem prazer e ritual de quem os adota. Se não fosse isso, o que levaria alguém a ficar horas concentrado na produção de uma peça tendo inúmeros recursos tecnológicos à sua disposição? Edith Derdyk (2010) traduz este sentimento: “o que me mantém horas a fio, literalmente costurando aquela linha que agrupada gera uma força superior? Sou prisioneira, mas só costurando nasce a possibilidade de tocar, com a ponta da agulha, o senso de liberdade”.

Ilex o tempo das coisas
Abertura: 17 de abril de 2025, às 13h
Encerramento: 23 de maio de 2025
de terça a sexta, das 13 horas às 18 horas, última entrada às 17h30.

Artistas Cadu Cinelli, Gi Mazetto, Lisiani Serea, Lucilene Wapichana, Lu Dobrychlop, Marcelo Forte, Max Carlesso, Rafael Codognoto, Sonia Vasconcellos, Suzi Pereira, Talita Thutty e Vavá Diehl Texto da exposição Coletivo Bordas  Assessoria de Comunicação Renata Borges Todescato Estagiária de Jornalismo Isabeli Cristine Guerreiro Comissão Cultural BRDE Mariana Bernal, Paulo Marques e Sandro Hauser Coordenação de Cultura Mariana Bernal Mediação Kathia Bello

A exposição Ilex o tempo das coisas foi selecionada pela Comissão Cultural do #BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul.