Com o apoio do Estado, a publicação em formato digital traça uma análise do desenvolvimento do espaço urbano da capital paranaense e tem o objetivo de ser material de apoio para a educação básica.
O Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões comemora 18 anos de fundação neste mês e recebeu o lançamento do projeto “Curitiba, o traço e a forma: configuração urbana e arquitetura em mapas históricos” que tem o próprio palacete como um dos objetos de estudo, juntamente com outros edifícios emblemáticos da capital. As arquitetas e pesquisadoras Maria da Graça Rodrigues dos Santos e Gisele Pinna Braga são as autoras do projeto que se consolidou como um livro digital (e-book), com o objetivo de apoiar a educação patrimonial no Paraná e ser material para atividades didáticas com crianças e jovens na educação básica.
“O lançamento no Palacete foi uma coisa inesperada e maravilhosa no sentido de potencializar o que pensamos no início que é criar um produto de educação patrimonial”, declarou a arquiteta e coautora Maria da Graça Rodrigues. “Isso acontecer num espaço onde a preservação do patrimônio está presente no dia a dia, e além disso, esse patrimônio está presente também na dinâmica da cidade atual, isso é uma coisa maravilhosa”, comemorou.
Ao evidenciar elementos da configuração urbana de Curitiba, suas influências e traçados característicos, a publicação apresenta edificações históricas institucionais, tombadas como Patrimônio Cultural do Paraná e representadas nos mapas selecionados no estudo. “É com grande entusiasmo que sediamos o lançamento deste E-book, alinhado com nosso propósito institucional de difusão da educação patrimonial e de contribuir para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, especialmente o ODS 11, relacionado à salvaguarda do patrimônio cultural”, considera Rafaela Tasca, coordenadora do Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões.
No evento de lançamento, na última quinta-feira (22/06), os participantes assistiram a palestra da professora doutora Elizabeth Amorim de Castro, do departamento de Arquitetura da UFPR, que fez considerações sobre a importância de projetos de educação patrimonial. Juntamente com as autoras, elas visitaram à página do e-book no site Memória Urbana e explicaram o funcionamento do material com possibilidade de uso em aulas para todos os níveis de ensino.
Manual Para Professores
As autoras também elaboraram um Manual de Atividades Didáticas, disponível como apêndice no e-book. Para Maria da Graça Rodrigues, um primeiro desdobramento deste projeto é a possibilidade de apresentar o manual em um evento da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. As autoras também planejam criar perfil em rede social para ajudar a divulgar a iniciativa. “E que a gente possa desenvolver mais trabalhos desse tipo, não só o trabalho de pesquisa em si, mas atrelado a essa reconstituição digital, que é uma forma de chegar mais perto das pessoas para garantir a preservação do patrimônio e a educação patrimonial.”, explicou Maria da Graça.
Por ser um projeto multimídia, o acesso ao material se torna facilitado. Estão disponíveis aos internautas, não somente conteúdo de texto e imagens, como também vídeos dos edifícios e paisagens históricas, músicas do período e imagens recriadas de fachadas e ambientes internos de edificações que estão descaracterizadas ou já não existem mais.
“Buscamos com esse E-book ampliar o conhecimento sobre a cidade atual, fornecendo subsídios para estudantes e professores, principalmente, mas não exclusivamente, desenvolverem ações de educação patrimonial, e ampliando o leque de possibilidades, para estudantes universitários e pesquisadores do espaço urbano.”, analisa Gisele Pinna.
Participaram do evento de lançamento a o diretor da Escola de Patrimônio de Curitiba, Marcelo Sutil, a professora Rosângela Canetti, representando o Colégio Estadual do Paraná, a professora Marice Ribas, representando a Secretaria Municipal de Educação, a cônsul Honorária da Finlândia no Paraná e Santa Catarina, Roseanne Lunardelli Salomon Fontana, e o analista Paulo Marques, membro da Comissão Cultural do BRDE. Também estiveram presentes membros de famílias que são citadas no livro, como os Tassi e os Fontana, assim como, estudantes de arquitetura e outros pesquisadores. O ebook “Curitiba, o traço e a forma: configuração urbana e arquitetura em mapas históricos” é um projeto realizado com recursos do Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura do Paraná (Profice) e tem o Espaço Cultural BRDE como um dos apoiadores.
Sobre a publicação
A equipe de produção deste e-book teve a participação de outros profissionais além das autoras, sendo que Maria da Graça Rodrigues dos Santos assina a pesquisa e redação de texto e Gisele Pinna Braga, a produção digital de imagens e direção de arte de materiais audiovisuais. O projeto também contou com a colaboração de Henrique Jakobi Moreira, no projeto gráfico, diagramação e produção web; Rafael Tiago Rosa, na modelagem e animação; Estevão Cardoso Zaghi, na fotografia, filmagem e produção audiovisual; Isabela Duarte Santana, no desenho; Lucia Eli Paiva, na revisão de texto; e Edinéli Ferreira Machado de Sousa, na coordenação.
Em cada capítulo, o leitor tem a oportunidade de conhecer elementos do traçado característico de um período e suas edificações mais representativas. Cada elemento é revelado em mídias diversas, que complementam os textos, visando resgatar a essência dos ambientes originais, o que se observa com mais clareza nas reconstituições digitais produzidas pela equipe.
O capítulo 1 é representado pelas plantas que abrangem o período entre 1857 e 1880. A arquitetura é representada pela Igreja da Ordem Terceira de São Francisco. No capítulo 2 o foco são as representações produzidas entre 1882 e 1900 que expressam as mudanças que ocorreram na consolidação da capital e a expansão trazida pela ferrovia. Na arquitetura, revelam-se características da Estação Ferroviária; do antigo Palácio do Governo (atual MIS – Museu da Imagem e do Som) e do antigo Palácio da Assembleia (atual Câmara de Vereadores).
No capítulo 3 são analisadas as representações do período de 1914 e 1915 que expressam as mudanças propostas por Cândido de Abreu. Na arquitetura são apresentadas as edificações que revelam o requinte das primeiras décadas do século XX, tradução do desenvolvimento econômico do Estado, espelhado na capital como o Paço da Liberdade, o Hotel Tassi, o Palacete Júlio Garmatter e o Palacete Leão Jr., esse com inserção do material de pesquisa produzido pelo Espaço Cultural BRDE.
O capítulo 4 tem o propósito de mostrar não apenas as mudanças ocorridas no período em relação aos períodos anteriores, como a transição para a “virada” no planejamento urbano, promovida pelo Plano de Urbanismo de Alfred Agache, de 1943. As plantas de 1927, 1929 e 1935 são exemplares destas transformações. Na arquitetura, o objeto singular é o edifício Moreira Garcez, cuja escala e linguagem anuncia o futuro e o distanciamento das linguagens historicistas. A Praça Tiradentes fecha o bloco de representações, por revelar a “convivência” de edificações de períodos distintos da história da cidade.
Sobre as autoras
Maria da Graça Rodrigues dos Santos é arquiteta e urbanista formada pela UFBA (1983), possui pós-graduação em Metodologia de Desenvolvimento Municipal e Urbano pelo IBAM-RJ (1987), Mestrado em Arquitetura e Urbanismo (Conservação e Restauro) pela UFBA (1992). É doutora em Arquitetura e Urbanismo pela USP (2001), pós-doutora em Geografia pela UFPR (2020). Foi Conselheira do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná (2011-2015) e Membro Suplente do Conselho do Patrimônio Cultural de Curitiba (2016-2019). Experiência em pesquisa e ensino nas áreas de: Intervenções Urbanas Contemporâneas, Patrimônio Urbano e Paisagem Cultural, Educação Patrimonial, Teoria e História do Urbanismo, Arquitetura Brasileira e História da Arte. Foi professora e coordenadora do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UP, Curitiba (1999-2017). É também coautora do livro “Uma Rua no percurso do tempo: transformação e resiliência da Rua Comendador Araújo”.
Gisele Pinna é doutora pela USP com uma tese sobre a cognição do espaço arquitetônico. Tem experiência como docente em cursos de Arquitetura e Urbanismo, atuando em instituições de excelência em São Paulo e Curitiba. Desde 1995 dedica-se ao ensino e à pesquisa de tecnologias de Representação Digital e Gráfica. A especialização em multimídia e o mestrado em Ciências da Comunicação foram escolhas naturais. Atua como docente há 28 anos em disciplinas relacionadas a conteúdos de modelagem digital e animação. Como pesquisadora explora tecnologias digitais emergentes e suas possíveis aplicações no campo da arquitetura. Integra o grupo de pesquisa da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), com a pesquisa “A Representação Gráfica no Projeto Arquitetônico”. A produção científica aborda 3 temas principais: Representações no Projeto de Arquitetura, Investigações no ensino e Projeto e Memória. Coautora dos livros “Artigas e Miguel Juliano: 6 casas modernistas em Ponta Grossa” e “Uma Rua no Percurso do Tempo: Transformações e Resiliência da Rua Comendador Araújo”.
Sobre o Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões
Inaugurado em junho de 2005, o Espaço Cultural BRDE – Palacete dos Leões, localizado em Curitiba, é mantido e coordenado pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul. Oferecendo uma programação gratuita, realiza exposições e atividades relacionadas ao patrimônio cultural, história, arquitetura e arte contemporânea. Sua programação contempla um programa de exposições temporárias de artistas nacionais e em parceria com outras instituições culturais. Sua sede, o Palacete Leão Jr., é uma edificação centenária, tombada como Patrimônio Cultural do Paraná desde 2003.
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